sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 30/01/2009

Evangelho
S. Marcos 4,26-34.

Dizia ainda: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.» Dizia também: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular.

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

São Vicente de Paulo (1581-1660), presbítero, fundador de comunidades religiosas
Entrevistas; parecer de A. Durant, 1656 (Seuil 1960, p. 320)

«A que podemos comparar o Reino de Deus?»

Não tenhais a paixão de parecerdes superiores, nem mestres. Não estou de acordo com uma pessoa que me dizia, há alguns dias, que, para bem conduzir e manter a autoridade, era preciso fazer ver que se era o superior. Ó meu Deus! Nosso Senhor Jesus Cristo não falou nada assim; ele ensinou-nos o contrário, com a palavra e com o exemplo, dizendo-nos que Ele próprio veio, não para ser servido, mas para servir os outros, e que aquele que quiser ser o primeiro deve ser o escravo de todos (Mc 10, 44-45) [...].

Por isso, entregai-vos a Deus, a fim de falardes no espírito humilde de Jesus Cristo, confessando que a vossa doutrina não é vossa, nem de vós, mas do Evangelho. Imitai sobretudo a simplicidade das palavras e das comparações que Nosso Senhor fazia na Sagrada Escritura, falando ao povo. Que maravilhas não podia Ele ensinar ao povo! Que segredos não teria Ele sido capaz de desvendar sobre a Divindade e as Suas admiráveis perfeições, Ele que era a Sabedoria eterna de Seu Pai! No entanto, vede como fala inteligivelmente, e como se serve de comparações familiares, de um trabalhador, de um vinhateiro, de um campo, de uma vinha, de um grão de mostarda. Aí está como é preciso que vós faleis, se quereis fazer-vos entender pelo povo, a quem anunciais a palavra de Deus.

Outra coisa à qual deveis dar uma atenção muito particular é terdes uma grande dependência em relação à conduta do Filho de Deus; quero dizer que, quando for preciso agir, façais esta reflexão: «Isto está de acordo com as máximas do Filho de Deus?» Se achardes que está, dizei: «No momento certo, façamos»; se não, dizei: «Não o farei nunca». Mais, quando for o caso de fazer qualquer boa obra, dizei ao Filho de Deus: «Senhor, se estivésseis no meu lugar, como faríeis Vós nesta ocasião? Como instruiríeis Vós o povo? Como consolaríeis Vós este doente do espírito ou do corpo?» [...] Procuremos fazer com que Jesus Cristo reine em nós.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 29/01/09

Evangelho
S. Marcos 4,21-25.

Disse-lhes ainda: «Põe-se, porventura, a candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser colocada no candelabro? Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.» E prosseguiu: «Tomai sentido no que ouvis. Com a medida que empregardes para medir é que sereis medidos, e ainda vos será acrescentado. Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Inácio de Antioquia ( ?-c. 110), bispo e mártir
Carta aos Efésios, §§ 13-15 (trad. coll. Icthus, vol. 2, p. 80)

«Não há nada escondido que não venha a descobrir-se»

Cuidai de vos reunirdes com mais frequência para oferecer a Deus a vossa eucaristia, as vossas ações de graças e os vossos louvores. Por vos reunirdes frequentemente, enfraqueceis as forças de Satanás e o seu poder pernicioso dissipa-se perante a unanimidade da vossa fé. Haverá algo melhor do que a paz, esta paz que desarma todos os nossos inimigos espirituais e carnais?

Não ignorareis nenhuma destas verdades, se tiverdes por Jesus Cristo uma fé e uma caridade perfeitas. Estas duas virtudes são o princípio e o fim da vida: a fé é o seu princípio, a caridade a sua perfeição; a união das duas, o próprio Deus; todas as outras virtudes as seguem em procissão para conduzir o homem à perfeição. A profissão da fé é incompatível com o pecado e a caridade com o ódio.  «É pelos frutos que se conhece a árvore» (Mt 12,33); da mesma forma, é pelas suas obras que se reconhecem os que fazem profissão de pertencer a Cristo. Pois, neste momento, para nós, não se trata apenas de fazer profissão da nossa fé, mas efetivamente de a pôr em prática com preseverança, até ao fim.

Mais vale ser-se cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser. Fica muito bem ensinar, desde que se pratique o que se ensina. Nós temos, portanto, um só Mestre (Mt 23,8), Aquele que «disse, e tudo foi feito» (Sl 32,9). Mesmo as obras que realizou em silêncio são dignas do Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus pode até ouvir o Seu silêncio; será então perfeito: agirá através de Sua palavra e manifestar-se-á pelo Seu silêncio. Nada escapa ao Senhor; mesmo os nossos segredos estão na Sua mão. Façamos portanto todas as nossas ações com o pensamento de que Ele habita em nós; seremos então nós mesmos Seus templos, e Ele será o nosso Deus, que habita em nós.
 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 28/01/2009

Evangelho
S. Marcos 4,1-20.

De novo começou a ensinar à beira-mar. Uma enorme multidão vem agrupar-se junto dele e, por isso, sobe para um barco e senta-se nele, no mar, ficando a multidão em terra, junto ao mar. Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas e dizia nos seus ensinamentos: «Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.» Ao ficar só, os que o rodeavam, juntamente com os Doze, perguntaram-lhe o sentido da parábola. Respondeu: «A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas, aos que estão de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, para que ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam, não vão eles converter-se e ser perdoados.» E acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas? O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Beato Guerric d'Igny (c.1080-1157), abade cisterciense
5º sermão para o Natal (trad. cf. SC 166, pp. 227 e R. Thomas, Pain de Cîteaux)

«Os que ouvem a palavra e a recebem dão fruto»

Obviamente, é uma palavra «certa e digna de toda a aceitação» (1Tim 1,15), porque a Tua Palavra é onipotente, Senhor! Descida de um imenso e profundo silêncio, do alto, das moradas reais do Pai (Sb 18,14-15), para repousar numa manjedoura de animais, esta Palavra fala-nos melhor, por agora, através do Seu silêncio. «Quem tiver ouvidos, ouça» o que nos diz este santo e misterioso silêncio do Verbo eterno [...]

Com efeito, haverá alguma coisa que inculque a regra do silêncio com tanta força e autoridade, que reprima o mal inquieto da língua e das tempestades de palavras [...], como a Palavra de Deus, silenciosa entre os homens? «A palavra ainda não me chegou à boca» (Sl 138, 4), parece proclamar a Palavra onipotente, desde que se submete a Sua mãe. E nós, com que loucura dizemos: «confiamos na força da nossa língua; os nossos lábios nos defenderão; quem nos poderá dominar?» (Sl 11, 5) Que doçura seria para mim, se me fosse permitido guardar silêncio, apagar-me e calar-me, sem ter sequer de falar sobre o bem, para poder prestar mais atenção, para ficar mais recolhido, para escutar as palavras secretas e os significados sagrados deste silêncio divino! Como gostaria de ir à escola do Verbo por tanto tempo quanto o que o próprio Verbo guardou silêncio, na escola de Sua mãe. [...]

«O Verbo fez-se homem e veio habitar conosco» (Jo 1,14). Ponhamos então toda a nossa devoção, irmãos, em meditar sobre Cristo envolto nos panos com os quais Sua mãe O cobriu, para que vejamos, na alegria eterna do Reino, a glória e a beleza com a qual Seu Pai O terá revestido.
 
 

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 27/01/2009

Evangelho
S. Marcos 3,31-35.

Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, o mandam chamar. A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.» Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?» E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Beato Guerric d'Igny (c.1080-1157), abade cisterciense
2.º Sermão para a Natividade de Maria, § 3-4 (trad. SC 202, pp. 491ss.)

«Esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe»

O Evangelho mostra-nos o rosto mais belo de Cristo: a Sua vida e os ensinamentos que deu, por palavras e pelo próprio exemplo. Conhecer a Cristo desta forma constitui, na vida presente, a piedade dos cristãos [...]. Por isso Paulo, sabendo que «é o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada» (Jo 6,63), quer conhecer a Cristo mas já não à maneira humana (2Co 5,16), a fim de consagrar-se por inteiro Àquele que é o Espírito que vivifica (1 Co 15,45).

Ora, Maria parece partilhar este sentimento: ao desejar fazer penetrar em todos os corações o Bem-Amado nascido de seu seio, o Bem-Amado de seus desejos, ela descreve-O não segundo a carne, mas segundo o Espírito. Também ela parece dizer, com Paulo: «Ainda que tenha conhecido a Cristo à maneira humana, agora já não O conheço assim.» (2 Co 5,16). Com efeito, também ela deseja gerar, em todos os seus filhos adotados, o seu Filho único. Por isso, apesar de eles terem sido gerados pela palavra da verdade (Tg 1,18), Maria continua, em cada dia, a concebê-los pelo desejo e a solicitude da sua ternura maternal, até que estes cheguem «à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da Unidade de Cristo» (Ef 4,13), seu Filho, Aquele que ela concebeu e deu ao mundo [...].

Ela faz-nos assim, portanto, o elogio desse fruto de seu seio: «Sou a mãe do puro amor, do temor, do conhecimento e da digna esperança.» (Sir 24,18). - É esse então o teu Filho, ó Virgem das virgens? É esse o teu Bem-Amado, ó mais bela das mulheres? (Ct 5,9). - «Este é certamente o meu Amado; Este é o meu Filho, ó mulheres de Jerusalém (Ct 5,9). O meu Bem-Amado é, em si mesmo, o puro amor, e n'Aquele que d'Ele nasceu, do meu Bem-Amado, está o amor puro, o temor, a digna esperança e o conhecimento».
 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 26/01/2009

Evangelho
S. Lucas 10,1-9.

Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. Disse-lhes: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Papa Bento XVI
Audiência geral de 03/05/2006 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)

São Timóteo e Tito, sucessores dos apóstolos

A comunidade que surgiu do anúncio evangélico reconhece-se convocada pela palavra daqueles que foram os primeiros a fazer a experiência do Senhor e por Ele foram enviados. Ela sabe que pode contar com a orientação dos Doze, como também com a de quantos a eles se associam pouco a pouco como sucessores no ministério da Palavra e no serviço à comunhão. Por conseguinte, a comunidade sente-se comprometida a transmitir aos outros a «feliz notícia» da presença atual do Senhor e do seu mistério pascal, que age no Espírito.
Isto é bem evidenciado nalguns textos das Epístolas de São Paulo: «Transmiti-vos o que eu próprio recebi» (1 Cor 15, 3). E isto é importante. São Paulo sabe que foi originariamente chamado por Cristo com uma vocação pessoal, que é um verdadeiro Apóstolo e, contudo, também para ele o que conta sobretudo é a fidelidade a quanto recebeu. Ele não queria «inventar» um novo cristianismo, por assim dizer «paulino». Por isso insiste: «Transmiti-vos o que eu próprio recebi.» Transmitiu o dom inicial que vem do Senhor e é a verdade que salva. Depois, no fim da vida, escreve a Timóteo: «Tu és o depositário do Evangelho. Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1, 14).
Mostra-o também com eficiência este antigo testemunho da fé cristã, escrito por Tertuliano por volta do ano 200: «[Os Apóstolos,] no princípio, afirmaram a fé em Jesus Cristo e estabeleceram Igrejas para a Judeia e, logo a seguir, espalhados pelo mundo, anunciaram a mesma doutrina e uma mesma fé às nações e, por conseguinte, fundaram a Igreja em cada cidade. A partir destas, as outras Igrejas procederam à ramificação da sua fé e das sementes da doutrina, e continuamente o fazem, para serem verdadeiras Igrejas. Desta forma, também elas são consideradas apostólicas, como descendentes das Igrejas dos apóstolos" (De praescriptione haereticorum, 20; PL 2, 32).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia - 22/01/2009

Evangelho
S. Marcos 3,7-12.

Jesus retirou-se para o mar com os discípulos. Seguiu-o uma imensa multidão vinda da Galileia. E da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, de além-Jordão e das cercanias de Tiro e de Sídon, uma grande multidão veio ter com Ele, ao ouvir dizer o que Ele fazia. E disse aos discípulos que lhe aprontassem um barco, a fim de não ser molestado pela multidão, pois tinha curado muita gente e, por isso, os que sofriam de enfermidades caíam sobre Ele para lhe tocarem. Os espíritos malignos, ao vê-lo, prostravam-se diante dele e gritavam: «Tu és o Filho de Deus!» Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África), Doutor da Igreja
Sermões sobre a primeira carta de São João, 1,1 (trad. cf. SC 75, p. 113)

A Vida manifestou-se na carne

«O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram é o Verbo da Vida.» (1Jo 1,1) Como podemos nós tocar com as nossas mãos o Verbo, se não porque: «o Verbo fez-se homem e veio habitar conosco» (Jo 1,14)? Este Verbo, que se fez carne para ser tocado pelas nossas mãos, começou por se fazer carne no ventre da Virgem Maria. Mas não foi nessa altura que Ele começou a ser o Verbo, porque já o era «desde o princípio», diz São João. [...]

Talvez alguns entendam «Verbo da Vida» como uma expressão vaga para designar Cristo, e não rigorosamente o próprio corpo de Cristo, que as mãos tocaram. Mas vede a continuação: «de fato, a Vida manifestou-se» (1Jo 1,2). Cristo é, pois, o Verbo da Vida. E como se manifestou essa Vida? Ela existia desde o princípio, mas ainda não se tinha manifestado aos homens: mas apenas aos anjos, que a viam e que dela se alimentavam como se fosse o seu pão. É o que diz a Escritura: «Comeram todos o pão dos fortes» (Sl 77, 25).

Portanto, a Vida manifestou-se, a si mesma, na carne; foi colocada em plena evidência para que uma realidade anteriormente apenas aparente ao coração se torne igualmente visível aos olhos, a fim de curar os corações. Porque apenas este vê o Verbo; a carne e os olhos do corpo não o vêem. Nós éramos capazes de ver a carne, mas incapazes de ver o Verbo. O Verbo fez-se carne, que nós podíamos ver, para curar em nós aquilo que devia ver o Verbo.
 

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 20/01/2009

Evangelho
S. Marcos 2,23-28.

Ora num dia de sábado, indo Jesus através das searas, os discípulos puseram-se a colher espigas pelo caminho. Os fariseus diziam-lhe: «Repara! Porque fazem eles ao sábado o que não é permitido?» Ele disse: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele? Como entrou na casa de Deus, ao tempo do Sumo Sacerdote Abiatar, e comeu os pães da oferenda, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e também os deu aos que estavam com ele?» E disse-lhes: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. O Filho do Homem até do sábado é Senhor.»

Comentário ao Evangelho:

Aelred de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense
Espelho da Caridade, III, cap. 3 (trad. Bellefontaine, 1992, p. 185)

«O sábado foi feito para o homem»

Quando um homem se retira do tumulto exterior para entrar no segredo do seu coração, quando fecha a porta à multidão ruidosa das vaidades e percorre os seus tesouros interiores, quando nada encontra em si mesmo que esteja agitado e desordenado, nada que o atormente e o contrarie, quando tudo nele está cheio de alegria, de harmonia, de paz e de tranquilidade; quando o pequeno mundo dos seus pensamentos, das suas palavras e das suas obras lhe sorri, como a família sorri ao pai numa casa onde reina a ordem e a paz; nessa altura, surge de repente uma segurança maravilhosa. Dessa segurança provém uma alegria extraordinária, dessa alegria resulta um canto de satisfação e de louvor a Deus, louvor esse tanto mais fervoroso, quanto mais claramente se compreende que tudo quanto se tem de bom é dom de Deus.

A comemoração alegre do sábado deve ser precedida de seis dias, isto é, do completamento das obras. Começamos por transpirar praticando as boas obras, para em seguida descansarmos na paz da nossa consciência. Dessas obras boas nasce a pureza da consciência, que conduz a um justo amor de si mesmo, que nos permitirá amar o próximo como a nós mesmos (Mt 22, 39).
 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia - 19/01/2009

Evangelho
S. Marcos 2,18-22.

 

Estando os discípulos de João e os fariseus a jejuar, vieram dizer-lhe: «Porque é que os discípulos de João e os dos fariseus guardam jejum, e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu: «Poderão os convidados para a boda jejuar enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar. Dias virão em que o esposo lhes será tirado; e então, nesses dias, hão-de jejuar.» «Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, pois o pano novo puxa o tecido velho e o rasgão fica maior. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho romperá os odres e perde-se o vinho, tal como os odres. Mas vinho novo, em odres novos.»

 

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

 

Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino

A Santíssima Trindade e as suas obras

livro 42, sobre Isaías, 2, 26 (trad. Ir. Isabelle de la Source, Lire la Bíble, Mediaspaul, t. 6, p. 156)

 

«O esposo está com eles»

 

«Com grande alegria rejubilei no Senhor e o meu coração exulta no meu Deus.» (Is 61,10). [...] A vinda, a presença do Senhor de que fala o profeta neste versículo é o beijo que deseja a esposa do Cântico dos Cânticos quando diz: «Ah! Beija-me com ósculos da tua boca!» (Cant 1,2). E esta esposa fiel é a Igreja: nasceu dos patriarcas, noivou em Moisés e nos profetas; com o desejo ardente do seu coração, suspira pela vinda do seu Bem-Amado. [...] Cheia de alegria, agora que recebeu este beijo, exclama na sua felicidade: «Eu exulto de alegria no Senhor!»

Participando nesta alegria, João Baptista, o ilustre «amigo do Esposo», o confidente dos segredos do Esposo e da esposa, o testemunho do seu amor mútuo, declara: «Quem tem a esposa é o esposo; e o amigo do esposo, que o acompanha e escuta, alegra-se sobremaneira, ouvindo a voz do esposo. Essa é a minha alegria, que agora é completa.» (Jo 3,29). Indubitavelmente, o que foi o precursor do Esposo no seu nascimento, o precursor também da sua Paixão quando desceu aos infernos, anunciou a Boa Nova à Igreja que se encontrava à espera. [...]

Por conseguinte, este versículo ajusta-se completamente à Igreja jubilosa que, na mansão dos mortos, se apressa a ir ao encontro do Esposo: «Com grande alegria rejubilei no Senhor e o meu coração exulta no meu Deus.» E qual é a causa da minha alegria? Qual é o motivo do meu júbilo? «Porque me revestiu com a roupagem da salvação e me cobriu com o manto da justiça» (Is 61,10). Em Adão, tinha sido despida, tinha tido de juntar folhas de figueira para esconder a minha nudez; miseravelmente coberta de túnicas de pele, fui expulsa do paraíso (Gn 3,7.21). Mas hoje, o meu Senhor e meu Deus converteu as folhas em roupagem da salvação. Pela sua Paixão, ele revestiu-me com uma primeira roupa, a do baptismo e da remissão dos pecados; e, no lugar da túnica de peles da mortalidade, envolveu-me numa segunda roupa, a da ressurreição e da imortalidade.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia - 16/01/09

Evangelho
S. Marcos 2,1-12.

Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: «Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, pega no teu catre e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Catecismo da Igreja Católica § 976-982

«Filho, os teus pecados estão perdoados.»

«Creio na remissão dos pecados»: o Símbolo dos Apóstolos liga a fé no perdão dos pecados à fé no Espírito Santo, mas também à fé na Igreja e na comunhão dos santos. Foi ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos que Cristo ressuscitado lhes transmitiu o Seu próprio poder divino de perdoar os pecados: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20,22-23). [...]

«Um só Baptismo para a remissão dos pecados»: Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e ao Baptismo: «Ide por todo o mundo e proclamai a Boa-Nova a todas as criaturas. Quem acreditar e for baptizado será salvo» (Mc 16,15-16). O Baptismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos une a Cristo, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, a fim de que «também nós vivamos numa vida nova» (Rom 6,4). «No momento em que fazemos a nossa primeira profissão de fé, ao receber o santo Baptismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e total que não fica absolutamente nada por apagar, quer da falta original, quer das faltas cometidas de própria vontade por acção ou omissão; nem qualquer pena a suportar para as expiar [...] Mas apesar disso, a graça do Baptismo não isenta ninguém de nenhuma das enfermidades da natureza. Pelo contrário, resta-nos ainda combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de nos arrastar para o mal.»

Neste combate contra a inclinação para o mal, quem seria suficientemente forte e vigilante para evitar todas as feridas do pecado? «Portanto era necessário que a Igreja [...] fosse capaz de perdoar as faltas a todos os penitentes que tivessem pecado, até mesmo ao último dia da sua vida». É pelo sacramento da Penitência que o baptizado pode ser reconciliado com Deus e com a Igreja:

Não há nenhuma falta, por grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. «Não há ninguém, por malévolo ou culpado que seja, que não deva esperar com segurança o perdão, desde que o seu arrependimento seja sincero.» Cristo, que morreu por todos os homens, quer que dentro da Sua Igreja as portas do perdão estejam permanentemente abertas a quem quer que retorne do pecado.
 
 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 15/01/2009

Evangelho
S. Marcos 1,40-45.

Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Narrativa de três companheiros de São Francisco de Assis (c. 1244)
§ 11 (a partir da trad. de Desbonnets et Vorreux, Documents, pp. 813 ss.)


São Francisco é curado de seus temores por um leproso

Um dia, indo o jovem Francisco a cavalo perto de Assis, veio um leproso ao seu encontro. Tinha habitualmente grande horror aos leprosos, e por isso foi-lhe violento obrigar-se a descer do cavalo, mas fê-lo, e deu-lhe uma moeda de prata, beijando-lhe a mão. Tendo recebido do leproso um beijo de paz, subiu para o cavalo e seguiu o seu caminho. A partir daquele momento, começou a ultrapassar cada vez mais aquela sua limitação, até conseguir a perfeita vitória sobre si próprio, pela graça de Deus.

Alguns dias mais tarde, tendo-se munido com grande quantidade de moedas, dirigiu-se ao hospício dos leprosos e, tendo-os reunidos a todos, deu uma esmola a cada um, beijando-lhes a mão. No regresso, o que dantes lhe parecia tão amargo – quer dizer, ver ou tocar os leprosos – tinha-se verdadeiramente transformado em doçura. Ver leprosos era-lhe, como por vezes dizia, tão penoso, que não só se recusava a vê-los como a aproximar-se da sua habitação; se lhe acontecia vê-los ou passar perto da leprosaria [...], desviava o rosto e apertava o nariz. Mas a graça de Deus tornou-o tão próximo dos leprosos que, como o atesta no testamento, vivia entre eles e servia-os humildemente. A visita aos leprosos tinha-o transformado.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Evangelho do Dia 14/01/2009

Evangelho 
Marcos 1,29-39.

Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. À noitinha, depois do pôr do sol, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demônios; mas não deixava falar os demônios, porque sabiam quem Ele era. De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demônios.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos (trad. Deseille, La Fournaise de Babylone, Eds. Présence 1974, p. 88)


«De madrugada, ainda escuro, levantou-Se e saiu; foi para um lugar solitário e ali Se pôs em oração.»

Nada torna a alma pura e feliz, nem a ilumina e afasta dela os maus pensamentos, como as vigílias. Por isso, todos os nossos pais perseveraram neste trabalho das vigílias e adotaram por regra permanecer acordados de noite durante todo o curso da sua vida ascética. Fizeram-no especialmente porque tinham entendido o nosso Salvador convidar-nos a isso insistentemente, em diversos lugares, pela Sua Palavra viva: «Velai, pois, orando continuamente» (Lc 21,36); «Vigiai e orai, para não cairdes em tentação» (Mt 26,41); e ainda: «Orai sem cessar» (1 Tes5,17).

E não Se contentou com advertir-nos apenas por palavras. Deu-nos também o exemplo na Sua pessoa, honrando a prática da oração acima de qualquer outra coisa. Por isso Ele se isolava constantemente para rezar, e isso não era feito de um modo qualquer, mas escolhendo por tempo a noite e por lugar o deserto, a fim de que também nós, evitando as multidões e o tumulto, nos tornemos capazes de orar na solidão.

Por isso os nossos pais receberam este alto ensinamento a respeito da oração como se ele viesse do próprio Cristo. E escolheram vigiar na oração segundo a ordem do apóstolo Paulo, sobretudo a fim de poderem permanecer sem nenhuma interrupção na proximidade de Deus pela oração contínua. [...] Nada que venha do exterior os atinge e nada altera a pureza do seu intelecto, o que perturbaria estas vigílias que os enchem de alegria e que são a luz da alma.
 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

PENSAMENTO

No Inferno se encontra todas virtudes, menos a CARIDADE!
No Céu se encontra todos os vícios, menos o ORGULHO!
 
Santa Teresa