sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 27/02/2009

Evangelho
S. Mateus 9,14-15.

Depois, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar.»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Homilia sobre a oração, o jejum e a esmola; PL 52, 320 (trad. Breviário)

«Qual é o jejum que Me agrada? [...] Não é partilhares o teu pão com quem tem fome?» (Is 58, 6-7)

Quem pratica o jejum deve compreender o jejum: deve simpatizar com o homem que tem fome se quer que Deus simpatize com a sua própria fome; deve ser misericordioso se espera obter misericórdia. [...] O que perdemos pela desatenção, devemos conquistá-lo pelo jejum; imolemos as nossas vidas pelo jejum, porque não há nada mais importante que possamos oferecer a Deus, como prova o profeta quando diz: «O sacrifício que agrada a Deus é um espírito contrito; Deus não desprezará um espírito humilhado e contrito» (Sl 50, 19). Oferece pois a tua vida a Deus, oferece a oblação do jejum para que tenhas aí uma oferta pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que inste em teu favor. [...]

Mas, para que estes dons sejam agradáveis, é preciso que venha em seguida a misericórdia. O jejum não dá fruto se não for regado pela misericórdia; o jejum torna-se menos árido pela misericórdia; o que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Quem jejua pode cultivar o coração, purificar a carne, arrancar os vícios, semear as virtudes; mas, se não verter ondas da misericórdia, não recolhe frutos.

Ó tu que jejuas, o teu campo jejuará também se for privado da misericórdia; ó tu que jejuas, o que espalhas pela tua misericórdia refletir-se-á na tua granja. Para não desperdiçares pela avareza, recolhe pela generosidade. Dando ao pobre, dás a ti próprio; porque aquilo que não entregas a outrem, não o terás.
 
 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 26/02/2009

Evangelho
S. Lucas 9,22-25.

Naquele tempo disse Jesus: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.» Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Something Beautiful for God (trad. La Joie du don, p. 64 rev.)

«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»

Senhor, que a tua crucifixão e ressurreição nos ensinem a enfrentar as lutas da vida quotidiana e a sofrer aí a angústia da morte, para que vivamos em maior e mais criativa plenitude. Com humildade e paciência aceitaste os reveses da vida humana, como os sofrimentos da tua crucifixão. Ajuda-nos a aceitar as dificuldades e as lutas de cada dia como ocasiões para crescermos e para nos tornarmos semelhantes a Ti. Torna-nos capazes de as enfrentar com paciência e coragem, com plena confiança na Tua proteção. Faz-nos compreender que só chegaremos à plenitude da vida pela contínua aniquilação de nós próprios e dos nossos desejos egoístas, porque só morrendo conTigo podemos conTigo ressuscitar.
 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 20/02/2009

Evangelho
S. Marcos 8,34-38.9,1.

Chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que pode o homem dar em troca da sua vida? Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.» Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder.»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

São Leão Magno (? – c. 461), Papa e Doutor da Igreja
8ª Homilia sobre a Paixão

«Tome a sua cruz e siga-Me»

O Senhor foi entregue aos que O odeiam. Para insultar a sua dignidade real, obrigam-No a transportar Ele próprio o instrumento do Seu suplício. Assim se cumpria o oráculo do profeta Isaías: «Ele recebeu sobre os Seus ombros a insígnia do poder» (Is 9,5). Transportar assim a cruz, aquela cruz que Ele iria transformar em ceptro da Sua força, era certamente, aos olhos dos ímpios, um grande motivo de zombaria, mas para os fiéis foi um mistério espantoso: o glorioso vencedor do demónio, o todo-poderoso adversário das forças do mal, exibia aos Seus ombros, para adoração de todos os povos e com uma paciência invencível, o troféu da Sua vitória, o sinal da salvação. E através da imagem que Ele dá com este gesto, dir-se-ia que queria fortalecer todos aqueles que O imitarão, todos aqueles a quem dissera: «Aquele que não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim» (Mt 10,30).

Como a multidão acompanhasse Jesus até ao local do suplício, encontraram um certo Simão de Cirene e fizeram passar a cruz dos ombros do Senhor para os seus. Este gesto prefigurava a fé das nações, para quem a cruz de Cristo iria tornar-se, não um opróbrio, mas uma glória.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 19/02/2009

Evangelho
S. Marcos 8,27-33.

Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» «E vós, quem dizeis que Eu sou?» perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
Catequese baptismal n° 13, 3.6.23 (trad. breviário)

«Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-Lo.»

Não devemos ter vergonha da cruz do Salvador, mas devemos gloriar-nos nela. «A linguagem da cruz é escândalo para os judeus, loucura para os gentios», mas para nós é salvação. É loucura para os que se perdem, e poder de Deus para os que se salvam (1Cor 1, 18-24). Não foi apenas um homem que morreu, mas o Filho de Deus, Deus feito homem. No tempo de Moisés, o cordeiro afastou o anjo exterminador (Ex 12, 23); pois muito mais «o Cordeiro de Deus que vai tirar o pecado do mundo» (Jo 1, 29) nos libertou dos nossos pecados. [...]

Não foi obrigado que Ele deixou a vida, não foi pela força que foi imolado, mas pela Sua própria vontade. Escutai o que nos diz: «Tenho poder para a dar e para tornar a tomá-la» (Jo 10, 18). [...] Entregou-Se deliberadamente à sua Paixão, feliz pela Sua entrega, sorrindo ao Seu triunfo, contente por salvar os homens. Não teve vergonha da cruz, porque salvava a terra inteira. Não era um pobre homem que sofria, mas Deus feito homem que ia combater para obter o preço da paciência. [...]

Não te regozijes da cruz somente em tempos de paz; guarda a mesma fé em tempos de perseguição; não sejas amigo de Jesus apenas em tempos de paz, para te tornares Seu inimigo em tempos de guerra. Recebes agora o perdão dos teus pecados e os dons espirituais prodigalizados pelo teu rei; quando eclodir a guerra, combate com bravura pelo teu rei. Jesus foi crucificado por ti, Ele que não tinha pecado. [...] Não foste tu que Lhe deste esta graça, porque recebeste-a primeiro. Mas dá graças Àquele que pagou a tua dívida sendo crucificado por ti no Gólgota.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 18/02/2009

Evangelho
S. Marcos 8,22-26.

Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?» Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.» Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

Homilia atribuída a São Fulgêncio de Ruspe (467-532), bispo
(trad. em Kephas, Fayard, t. 2, p. 172 rev)

«Jesus impôs as mãos sobre os olhos do cego»

O espelho projeta; o espelho apaga. Com efeito, Aquele que, «vindo ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9) é o verdadeiro espelho do Pai. Cristo passa enquanto imagem do Pai (Heb 1, 3) e afasta a cegueira dos olhos dos que não vêem. Este Cristo que veio do céu passa, a fim de que todo o homem O veja, de acordo com a palavra profética do velho Simeão, que recebeu o Verbo recém-nascido nos seus braços e O contemplou com alegria, dizendo: «Agora, Senhor, podes deixar ir o teu servo partir em paz, segundo a Tua palavra porque os meus olhos viram a Salvação» (Lc 2, 29-30).

Só, o cego não podia ver Cristo, espelho do Pai. Qual era então a fidelidade d'Aquele que os profetas tinham anunciado: «Então se abrirão os olhos do cego e se desimpedirão os ouvidos do surdo, o coxo saltará como um veado e a língua do mudo dará gritos de alegria»? (Is 35, 5-6) Cristo abriu os olhos ao cego, que viu em Cristo o espelho do Pai. Maravilhoso remédio contra a natureza! [...]

O primeiro homem foi criado luminoso, tornando-se cego quando se abandonou à serpente: este cego tornou a nascer quando voltou a acreditar. Porque o seu corpo era fraco, mas a sua natureza também estava corrompida. Necessitava duplamente da Luz. [...] O artífice, o seu Criador, passou e reflectiu no espelho esta imagem do homem caído, vendo a miséria do cego. Milagre do poder de Deus, que cura quem encontra e ilumina quem visita.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 17/02/2009

Evangelho
S. Marcos 8,14-21.

Os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco. Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.» E eles discorriam entre si: «Não temos pão.» Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» «E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo, Doutor da Igreja

«Não vedes? Ainda não compreendeis?»

Não consigo ver a tua luz: é demasiado brilhante para a minha vista. E no entanto, tudo o que vejo é graças à Tua luz que o distingo, como os nossos olhos frágeis vêem, graças ao sol, tudo o que avistam, sem no entanto conseguirem olhar directamente para o sol.

A minha inteligência fica impotente perante a Tua luz, que é demasiado brilhante. Os olhos da minha alma são incapazes de a receber, não suportando sequer ficar muito tempo fixos nela. O meu olhar fica ferido pelo seu brilho, ultrapassado pela sua extensão; perde-se na sua imensidão e fica confundido perante a sua profundidade.

Ó luz soberana e inacessível! Verdade total e feliz! Quão longe estás de mim, e no entanto eu estou tão perto de Ti! Tu escapas quase inteiramente à minha vista, enquanto que eu estou inteiramente debaixo da Tua vista. Por todo o lado irradia a plenitude da Tua presença, e eu não consigo ver-Te. É em Ti que ajo e que tenho a minha existência; no entanto, não consigo chegar a Ti. Tu estás em mim, Tu és tudo ao meu redor; no entanto, não consigo alcançar-Te com a vista.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 16/02/2009

Evangelho
S. Marcos 8,11-13.

Apareceram os fariseus e começaram a discutir com Ele, pedindo-lhe um sinal do céu para o pôr à prova. Jesus, suspirando profundamente, disse: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.» E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem.

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

Santo Hilário (v. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja
A Santíssima Trindade, livro 12, 52-53 (trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, Mediaspaul 1988, t. 1, p. 19)

«Por que pede esta geração um sinal?»

Pai Santo, Deus Todo Poderoso [...], quando levanto para o Teu céu a fraca luz dos meus olhos, posso duvidar de que é o Teu céu? Quando contemplo o caminho das estrelas, o seu regresso no ciclo anual, quando vejo as Plêiades, a Ursa Menor e a Estrela da Manhã e considero como cada uma brilha no lugar que lhe foi assinalado, compreendo, ó Deus, que Tu estás aí, nesses astros que eu não compreendo. Quando vejo «as belas ondas do mar» (Sl 92,4), não compreendo a origem dessas águas, não compreendo sequer o que põe em movimento os seus fluxos e refluxos regulares, e no entanto, creio que existe uma causa – certamente impenetrável para mim – para estas realidades que ignoro, e também aí eu pressinto a Tua presença.

Se volto o meu espírito para a terra, que, pelo dinamismo das forças escondidas, decompõe todas as sementes que acolheu no seu seio, as faz germinar lentamente e as multiplica, e depois lhes permite crescerem, não encontro nada que possa compreender com a minha inteligência; mas esta ignorância ajuda-me a discernir-Te a Ti, porque, se não conheço a natureza posta ao meu serviço, reencontro-Te, no entanto, pelo fato de ela estar lá para minha utilização.

Se me volto para mim, a experiência diz-me que não me conheço a mim próprio e admiro-Te tanto mais quanto sou para mim um desconhecido. De fato, mesmo que não os possa compreender, tenho a experiência dos movimentos do meu espírito que julga, destas operações, da sua vida, e esta experiência a Ti a devo, a Ti que me deste a partilhar esta natureza sensível que faz a minha felicidade, mesmo que a sua origem esteja para além da minha inteligência. Eu não me conheço a mim próprio, mas dentro de mim encontro-Te e, ao encontrar-Te, adoro-Te.
 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dica de Formação Espiritual

O Pe. Paulo Ricardo, reitor do Seminário de Cuiabá, pregou um Curso sobre "Terapia das Doenças Espirituais" baseado na doutrina dos Santos Padres, base da Tradição Católica e também em psicólogos modernos.
 
O curso é muito interessante e está disponível para ouvir "on-line" ou para "download" no site do padre. São 18 palestras!
 
Segue o link:
 
 
Betto Lima
Campo Grande - MS

Evangelho do Dia 13/02/2009

Evangelho
S. Marcos 7,31-37.

Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-lhe um surdo tartamudo e rogaram-lhe que impusesse as mãos sobre ele. Afastando-se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou dizendo: «Effathá», que quer dizer «abre-te.» Logo os ouvidos se lhe abriram, soltou-se a prisão da língua e falava correctamente. Jesus mandou-lhes que a ninguém revelassem o sucedido; mas quanto mais lho recomendava, mais eles o apregoavam. No auge do assombro, diziam: «Faz tudo bem feito: faz ouvir os surdos e falar os mudos.»

Comentário ao Evangelho do Dia feito por :

Concílio Vaticano II
«Gaudium et Spes», Constituição Dogmática sobre a Igreja no mundo actual, §§ 19-21

Alguns permanecem surdos aos apelos de Deus

A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus; pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador. Porém, muitos dos nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a rejeitam explicitamente; de tal maneira que o ateísmo deve ser considerado entre os factos mais graves do tempo actual. [...]

Enquanto alguns ateus negam expressamente Deus, outros pensam que o homem não pode afirmar seja o que for a Seu respeito; outros ainda, tratam o problema de Deus de tal maneira, que ele parece não ter significado. Muitos, ultrapassando indevidamente os limites das ciências positivas, ou pretendem explicar todas as coisas só com os recursos da ciência, ou, pelo contrário, já não admitem nenhuma verdade absoluta. [...] Outros concebem Deus de uma tal maneira, que aquilo que rejeitam não é de modo algum o Deus do Evangelho. Outros há que nem sequer abordam o problema de Deus: parecem alheios a qualquer inquietação religiosa e não percebem por que motivo se devem ainda preocupar com a religião. Além disso, o ateísmo nasce muitas vezes dum protesto violento contra o mal que existe no mundo. [...]

Não se deve passar em silêncio, entre as formas actuais de ateísmo, aquela que espera a libertação do homem sobretudo da sua libertação económica.

A Igreja [...], consciente da gravidade dos problemas levantados pelo ateísmo e levada pelo amor que tem a todos os homens, entende que eles devem ser objecto de um exame sério e profundo. A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus. Com efeito, o homem, ser inteligente e livre, foi constituído em sociedade por Deus Criador; mas é sobretudo chamado a unir-se a Deus como filho e a participar na Sua felicidade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 12/02/2009

Evangelho
S. Marcos 7,24-30.

Partindo dali, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, porque logo uma mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele, veio lançar-se a seus pés. Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe que expulsasse da filha o demónio. Ele respondeu: «Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos.» Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos.» Jesus disse: «Em atenção a essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha.» Ela voltou para casa e encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Guigues de Chartres (1083-1136), Prior da Grande Cartuxa
Carta sobre a vida contemplativa, 6-7 (trad. Orval ; cf SC 163, p. 95)

«Ela veio lançar-se a Seus pés»

«Senhor, Tu que só os corações puros podem ver (Mt 5, 8), eu procuro, na leitura e na meditação, encontrar a verdadeira pureza do coração e a forma de a obter para poder, graças a ela, conhecer-Te, por pouco que seja. Procurei o Teu rosto, Senhor, procurei o Teu rosto (Sl 26, 8). Meditei muito dentro do meu coração, e um fogo se iluminou na minha meditação: o desejo de Te conhecer melhor. Quando Tu partes para mim o pão da Sagrada Escritura, eu reconheço-Te nessa fracção de pão (Lc 24, 30-35). E quanto melhor Te conheço, mais desejo conhecer-Te, não só no sentido do texto, mas no sabor da experiência.

Não o peço, Senhor, pelos meus méritos, mas por causa da Tua misericórdia. Devo confessar que sou, realmente, pecador e indigno, mas «mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos». Dá-me portanto, Senhor, em fiança pela herança futura, ao menos uma gota da chuva celeste para refrescar a minha sede, pois estou sequioso de amor. [...]»

É através deste tipo de discursos que a alma chama pelo seu Esposo. E o Senhor, que olha pelos justos e que não ouve apenas as suas preces mas está presente nessa oração, não espera pelo final. Ele interrompe o discurso a meio; aparece de repente, vem rapidamente ao encontro da alma que O deseja, fluindo no doce orvalho do céu como o perfume mais precioso. Ele recria a alma fatigada, alimenta a que tem fome, fortifica a sua fragilidade, reaviva-a mortificando-a através de um admirável esquecimento de si própria, torna-a sóbria ao enebriá-la.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 09/02/2009

Evangelho
S. Marcos 6,53-56.

Finda a travessia, aproximaram-se de Genesaré e aportaram. Assim que saíram do barco, reconheceram-no. Acorreram de toda aquela região e começaram a levar os doentes nos catres para o lugar onde sabiam que Ele se encontrava. Nas aldeias, cidades ou campos, onde quer que entrasse, colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. E quantos o tocavam ficavam curados.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santa Teresa d'Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
Exclamação 16 (trad. a partir de Auclair, Oeuvres, 1964, p. 534 e OC, Cerf, 1995, p. 892)

«E quantos O tocavam ficavam curados»

Ó Deus verdadeiro e Senhor meu! Para a alma afligida pela solidão em que vive na Tua ausência, é grande consolo saber que estás em toda a parte. Mas que sentido há nisto, Senhor, quando a força do amor e a impetuosidade desta pena aumentam, e o coração se atormenta, a tal ponto, que nem podemos já compreender nem conhecer tal verdade? A alma percebe apenas que está apartada de Ti, e nenhum remédio admite. Porque o coração que muito ama não consente outros conselhos nem consolos, senão os vindos d'Aquele que o feriu; d'Ele, somente, espera a cura para a pena.

Quando Tu queres, Senhor, depressa saras a ferida que fizeste. Ó meu Bem-Amado, com quanta compaixão, com quanta doçura, bondade e ternura, com quantas mostras de amor Tu saras estas chagas feitas com as setas do Teu amor! Ó meu Deus, Tu és o repouso para todas as penas. Não será loucura vã procurar meios humanos para curar os que vivem enfermos do divino fogo? Quem poderá saber aonde tal ferida chegará, donde vem, e como mitigar tão penoso tormento? [...] Quanta razão tem a esposa do Cântico dos Cânticos, ao dizer: «O meu amado é para mim e eu para ele!» (Ct 2,16) Porque o amor que sinto não pode ter origem em algo tão baixo como é este meu amor. E no entanto, Esposo meu, sendo ele assim tão baixo, como entender que seja afinal capaz de superar todas as coisas criadas, para chegar a seu Criador?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 05/02/2009

Evangelho
S. Marcos 6,7-13.

Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Pio X, papa de 1903 a 1914
Encíclica «E supremi apostolatus»

Enviados por Cristo para o mundo inteiro

«Ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus Cristo» (1Cor 3, 11), Ele «a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo» (Jo 10, 36), «esplendor da Sua glória e imagem da Sua substância» (Heb 1, 3), verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem Quem ninguém pode conhecer perfeitamente a Deus, porque «ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar» (Mt 11, 27). Donde se segue que «reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas» (Ef 1, 10) e fazer regressar os homens à obediência a Deus são uma e a mesma coisa. É por isso que o objectivo para o qual devem convergir todos os nossos esforços consiste em fazer regressar o género humano à soberania de Cristo. Desse modo, o homem será, por isso mesmo, reconduzido a Deus: não a um Deus inerte e despreocupado das realidades humanas, como imaginaram certos filósofos, mas a um Deus vivo e verdadeiro, em três Pessoas, na unidade da Sua natureza, Criador do mundo, que estende a todas as coisas a Sua providência infinita, justo doador da lei, que julgará a injustiça e garantirá à virtude a sua recompensa.

Ora, onde se encontra a via que nos dá acesso a Jesus Cristo? Está diante dos nossos olhos: é a Igreja. Com razão nos diz São João Crisóstomo: «A Igreja é a tua esperança, a Igreja é a tua salvação, a Igreja é o teu refúgio.» Foi para isso que Cristo a estabeleceu, depois de a ter adquirido pelo preço do Seu sangue. Foi para isso que lhe confiou a Sua doutrina e os preceitos da Sua Lei, prodigando-lhe ao mesmo tempo os tesouros da Sua graça, para a santificação e a salvação dos homens. Vede pois, veneráveis irmãos, a obra que nos foi confiada [...]: nada mais pretender do que a todos formar em Jesus Cristo. [...] Trata-se da mesma missão que Paulo atestava ter recebido: «Filhinhos meus, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós» (Gal 4, 19). Ora, como havemos de cumprir semelhante dever, se não estivermos primeiramente «revestidos de Cristo» (Gal 3, 27)? E revestidos a ponto de podermos dizer: «Para mim, o viver é Cristo» (Fil 1, 21).

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Evangelho do Dia 04/02/2009

Evangelho 
Marcos 6,1-6.

E partiu dali. Foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja
Meditações sobre a vida de Cristo; Opera omnia, t. 12, pp. 530 ss. (trad. Bouchet, Lectionaire, p. 66)

«De onde é que isto Lhe vem? [...] Não é Ele o carpinteiro, o Filho de Maria?»

O Senhor Jesus, regressando do Templo e de Jerusalém a Nazaré com seus pais, morou com eles até à idade de trinta anos «e era-lhes submisso» (Lc 2,51). Não se encontra nas Escrituras o que é que Ele fez durante todo este tempo, o que parece bastante surpreendente. [...] Mas, se olharmos com atenção, veremos claramente que, não fazendo nada, fazia maravilhas. Cada um dos Seus gestos revela, com efeito, o Seu mistério. E, como agia com poder, também Se calou com poder, permanecendo recolhido na obscuridade com poder. O Mestre soberano, que nos vai ensinar os caminhos da vida, começa desde a Sua juventude a fazer obras de poder, mas de uma forma surpreendente, incógnita e inconcebível, parecendo aos olhos dos homens inútil, ignorante, e vivendo no opróbrio. [...]

Ele apreciava cada vez mais esta maneira de viver, a fim de ser julgado por todos como um ser pequeno e insignificante; isto fora anunciado pelo profeta, que dissera em seu nome: «Eu sou um verme e não um homem» (Sl 21,7). Vês portanto o que Ele fazia, não fazendo nada. Tornava-se desprezível [...]; acreditas que isso era pouca coisa? Seguramente, não era Ele que tinha necessidade disso, mas nós. Não conheço nada mais difícil nem mais grandioso. Parece-me que chegaram ao mais alto grau aqueles que, de todo o seu coração e sem fingimento, se possuem suficientemente para não procurarem nada de outrem senão ser desprezados, não contar para nada e viver num abaixamento extremo. É uma vitória maior que a tomada de uma cidade.